O súbito infortúnio do próximo grita em silêncio para sensibilizar os outros… e um dos valores humanos mais primitivos e primários é a solidariedade. A solidariedade baseada nos fundamentos das finanças chama-se hoje “SEGURO”, pois ao arrecadar dinheiro de muitos, pretende-se atender ao infortúnio de alguns que sofrem um imprevisto.
Este é o ABC da atividade seguradora, um assunto que não costuma ser muito sexy ou muito agradável de tratar no dia-a-dia da nossa sociedade. Nenhum de nós gosta de pensar em infortúnios, imprevistos, catástrofes, morte. Talvez por um “mau presságio”, talvez porque nos sintamos “blindados” ou simplesmente porque queremos encobrir possíveis infelizes acontecimentos que possam ameaçar a estabilidade da nossa economia. Mas a realidade é que não estamos isentos de imprevistos em todas as áreas da nossa vida… aliás, o único risco (que no fundo é mais do que um risco) que todos temos de enfrentar é a morte. E, nesse caso, a aleatoriedade só joga no tempo, se chegar em um período muito longo ou muito curto. Mas mesmo assim, todos vamos lá… e poucos de nós nos preparamos para deixar apoio financeiro para nossos entes queridos em nossa ausência. Os riscos são tão naturais quanto a própria vida, e os desequilíbrios financeiros deles decorrentes sempre estarão presentes.
Eu, depois de muito sacrifício, consegui comprar um carro, que pode ser roubado, que pode ser danificado por uma batida, que pode causar danos a terceiros em seus bens ou pessoas, que pode machucar os ocupantes, que pode quebrar, que pode me colocar em um problema legal, etc. O mesmo pode acontecer no local onde normalmente concentramos boa parte do nosso patrimônio, em nossa casa, ou em nosso negócio. E sem falar no prejuízo econômico, além do emocional, que uma doença grave pode nos causar, como é o caso do COVID-19, que tanto nos mantém alertas. Uma doença grave pode destruir toda a família.
No final, não podemos ignorar os riscos e existem diferentes maneiras de abordá-los. A prevenção pode ser uma ferramenta, mas no final, talvez ela possa apenas reduzir a probabilidade de ocorrência ou a intensidade dos eventos. Podemos poupar para fazer frente a estes desequilíbrios, mas provavelmente a poupança pode não ser suficiente, podemos simplesmente assumir conscientemente as consequências, e se for o caso, buscar soluções para financiar eventualidades, com o apoio de familiares ou amigos, empréstimos pessoais ou mesmo vender bens para poder atendê-los. Porém, a forma mais saudável de atendê-los é por meio de seguros, com a consciência de que os riscos custam e para cada um, como forma de “poupança”, programar pagamentos fixos recorrentes para atender a imprevistos aleatórios que ameacem nossa estabilidade financeira.
Desde uma pandemia ou terremoto, mas mesmo precisando de um guincho ou um encanador em casa para atender uma emergência, o seguro é feito para equilibrar nossa economia e atender emergências que chegam até nós em momentos incertos.
Diz-se que nasceram no tempo dos fenícios, que começaram principalmente a atender os riscos de navegação entre diferentes armadores para atender aos infortúnios daqueles navios que naufragavam. Mas hoje, ao abrigo da técnica atuarial e das ferramentas tecnológicas, projetando a probabilidade de ocorrência de um sinistro, e os custos que estes podem representar, é que se calculam os prémios necessários à cobrança e tratamento dos sinistros. No final, continua sendo o princípio primário da solidariedade.
Os riscos não estão cobertos e, gostemos ou não, eles estarão lá mesmo que não queiramos falar sobre eles. De uma forma ou de outra teremos que enfrentá-los, por isso devemos começar desenvolvendo a consciência de que existem eventos súbitos e fortuitos que podem ameaçar nossa estabilidade econômica. E que existem mecanismos solidários com apoio técnico financeiro que podem nos ajudar a ter mais estabilidade.