A conferência internacional Fraud Talks, que reúne especialistas para trocar informações sobre prevenção e detecção de fraudes no mercado de seguros, foi realizada pela primeira vez na América Latina, sendo a Argentina o país escolhido pela FRISS para realizá-la.
Uma jornada com sala cheia em um moderno prédio do Distrito Tecnológico da Cidade de Buenos Aires, o evento começou com as boas-vindas de Ivan Ballón, Gerente de Desenvolvimento da FRISS América Latina e Iberia, que destacou o formato híbrido do encontro, desde então transmitido por streaming para toda a região.
Toda a cadeia de valor do mercado esteve presente, já que os painéis contaram com a presença do órgão de controle, representantes das associações de seguros, das seguradoras e do poder judiciário.
Visão Reguladora
No primeiro caso, o regulador tinha dois de seus funcionários. Leonardo Hennawi, Gerente Técnico e Regulatório da Superintendência de Seguros, compartilhou sua visão sobre a fraude de seguros na Argentina e as medidas específicas realizadas pela agência. “O desconhecimento do regulamento impede que as pessoas denunciem, como quando há vendedores ilegítimos, por isso é importante dar informação e formação à sociedade. Por isso, existem alguns espaços onde o SSN voltou a marcar presença, com os programas “O Seguro vai à Escola” que capacitam toda a comunidade educativa, desde pais, professores e alunos; e “O Seguro vai aos bairros” , para atingir todos os níveis da sociedade. A isto devemos acrescentar a reativação do Departamento de Orientação e Assistência ao Segurado (DOAA), com o qual também se combate a fraude”, explicou.
Além disso, destacou a importância de fortalecer as apólices online como ferramenta fundamental na atualidade, principalmente no carregamento de informações, onde foram detectadas milhares de inconsistências e se avançou em várias notificações. Ele anunciou que já está em andamento o desenvolvimento de uma plataforma de reclamações online, fundamental para manter um registro digital atualizado. E revelou que começaram os trabalhos em conjunto com a Universidade de Buenos Aires para desenvolver inteligência artificial em motores que ajudem a otimizar o combate à fraude.
Compartilhando o mesmo painel, Javier Iacobelli, Subgerente Antifraude da SSN, destacou que um grande número de inspeções são realizadas em todo o território nacional. “Realizamos verificações programadas e não programadas, e nestas últimas encontramos resultados marcantes, como vendas não autorizadas, apólices apócrifas, cobranças em dinheiro, retenções indevidas de prêmios, etc. Promovemos uma série de ações criminais e alertas à comunidade, dando respostas em questões de crimes graves”, explicou.
Entre outras ações, avançaram nas verificações do cumprimento do cadastramento dos canais digitais, com o objetivo de garantir que todo o mercado o cumpra para proteger os segurados e terceiros. Recordamos que é obrigatório e conterá as informações de domínios web, e-mail, aplicações web e/ou WhatsApp transacional de seguradoras, corretoras de seguros, empresas produtoras de seguros e agentes institucionais, que se destinem à comercialização e intermediação de seguros.
O papel indelegável da justiça
Fraud Talks, enfrentou o problema da fraude de diferentes frentes e para entender a posição e o papel da justiça contra esses crimes, convocou Juan Manuel García Blanco, Coordenador da Unidade de Investigação de Crimes Econômicos da Procuradoria Geral do Tribunal de Justiça de Buenos Aires, que expôs questões-chave para poder realizar processos judiciais.
“Durante a pandemia, nos vimos sobrecarregados com situações de fraude, e a Procuradoria Geral da República gerou diretrizes de trabalho para toda a Província de Buenos Aires, o que nos deu ferramentas para podermos atuar da melhor maneira possível como servidores públicos em esta actividade. A equipa é constituída por advogados e contabilistas, especializados em crimes de colarinho branco”, explicou o responsável, que sublinhou que acabam de ser assinados dois acordos de colaboração e troca de informações com o SSN, que vão ajudar muito nas suas investigações. “É importante gerar proximidade com as vítimas que são atingidas por esse tipo de crime e têm uma margem de erro muito menor, com um papel ativo junto às vítimas. Isso é fundamental para entender como funciona todo o sistema”, afirmou, ressaltando a importância de trabalhar em conjunto com todo o mercado de seguros e aprender pela justiça como funciona o mercado de seguros, pois ele tem questões muito particulares que exigem treinamento e participação nesses tipos de eventos.
Seguradoras e corretores de seguros, atores centrais
O painel com a visão das seguradoras foi aberto com uma mensagem do presidente da FIDES, Rodrigo Bedoya, que destacou que “a boa-fé é o princípio fundamental que rege o contrato de seguro entre as três partes envolvidas: o tomador do seguro, o segurado e o beneficiário e devem ser respeitados em todas as instâncias, desde a celebração do contrato até o pagamento do sinistro”. Neste contexto, mostrou-se preocupado com o crescimento das fraudes e, em particular, com as situações em que este tipo de crime é naturalizado, o que acaba por afetar todo o sistema. “Na luta contra a fraude, todos nós ganhamos”, disse ele.
Gustavo Trías, Diretor Executivo da Associação Argentina de Seguradoras (AACS), foi quem primeiro tomou a palavra, indicando que “a fraude é algo que sempre nos preocupa e nos últimos anos se intensificou muito, porque a fraude perpetrada por indivíduos cresceu, mesmo em pequenas cidades do interior. Temos tratado sistematicamente do assunto e vemos que a fraude está disseminada em diversas áreas”, revelando que do total de casos investigados, apenas 6% das denúncias conseguem confirmar um componente de fraude. E desses, 95% são casos menores. “É difícil passar em processos criminais, porque precisam de muitos elementos, inclusive muitos advogados”, lamentou.
Por sua vez, Julián García, Diretor Executivo de Seguradoras do Interior da República Argentina (ADIRA) falou sobre a importância de compartilhar informações de forma transversal entre todos os atores do mundo segurador. “Existe todo um volume não detectado que faz parte de algo que está diluído. O mais grave é o que vivemos como sociedade ao pensar que a fraude é algo normal. É preciso um acordo, falta troca de informações. Vamos começar a perceber que o problema é de todos, que não afeta apenas uma parte e que os perpetradores devem pagar por seus crimes”, afirmou.
Em seguida, fazendo uma crítica social e um apelo ao reforço da ética na Argentina, Eduardo Felizia, Presidente da Associação de Seguradoras Argentinas (ADEAA) indicou: “É importante compartilhar informações e fazer acordos concretos, já que a ética cidadã se deteriorou, o esforço é realmente enorme. Há uma consciência geral de não punição, temos que tentar reverter isso como em muitas outras pendências. O trabalho é árduo de conscientização, numa Argentina que deve deixar claro que o que é meu é meu e o que é do outro não é meu, pensando na ética acima de tudo. É fundamental gerar bases de diálogo e nisso a tecnologia também é fundamental”.
Trías concordou com esta análise, acrescentando que “o aspecto mais forte é a questão ética como país, já que somos naturalizados para receber processos e acordos fraudulentos em instâncias judiciais. Hoje você tem que trabalhar internamente no mercado para conscientizar, por exemplo, em atores que não devem operar e que operam. A justiça não acompanha as denúncias, não temos um mapa criminal do país e não sabemos onde investir para reverter isso. Somos parte do problema, por isso devemos trabalhar todos os setores interligados, o público e o privado”.
Os três representantes das câmaras empresariais destacaram o papel do corretor de seguros no combate à fraude, sobretudo porque são eles que melhor conhecem o cliente, muito mais do que as seguradoras. E para falar sobre isso, o último painel contou com a presença de Nicolás Saurit Román, vice-presidente da Associação Argentina de Produtores Assessores de Seguros (AAPAS), que argumentou que “há oportunidades para fraudes e a crise econômica aumenta esses crimes”. Por isso, destacou a necessidade de conhecer o segurado, não de subscrever por subscrever e conhecer o historial do cliente.
“Na AAPAS, a fraude nos preocupa e nos ocupa. Como em qualquer atividade, existem atores bons e ruins, felizmente no nosso caso, a grande maioria são bons. O crescimento das fraudes deve nos chamar à reflexão e nos obrigar a trabalharmos juntos, por exemplo, compartilhando informações em todos os níveis e arestas que envolvem o mundo dos seguros”, finalizou.
Para encerrar a conferência, os presentes desfrutaram de um show imersivo de mentalismo e ilusionismo, onde o hacker mental, Max Giaco, demonstrou através de diferentes truques como todos podemos ser enganados. Assim como no mercado de seguros.