(RIO DE JANEIRO) ENVIADOS ESPECIAIS – Foi um luxo, em um evento de seguros, contar com a presença de três palestrantes principais de nível mundial. A FIDES Rio 2023 teve como palestrantes principais Tony Blair, o ex-primeiro-ministro trabalhista do Reino Unido (de 1997 a 2007), Paul Krugman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia, e Luis Alberto Moreno, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento por três mandatos (2005-2020).
Tony Blair, procurado por todos
Na manhã de segunda-feira, 25 de setembro, após a abertura oficial da FIDES Rio 2023, o líder mais jovem que o partido trabalhista do Reino Unido já teve foi entrevistado pelo anfitrião do evento, Dyogo Oliveira, presidente da CNseg, e abordou temas de geopolítica internacional, economia, tecnologia e América Latina em particular, com algumas reflexões pontuais sobre o mercado de seguros. Aqui estão suas principais definições:
A tecnologia está mudando a forma como o seguro opera. A indústria de seguros deve se atrever a desempenhar um papel maior na economia, e a agenda de desenvolvimento sustentável depende muito desse setor.”
“O poder transformador da tecnologia vai mudar tudo e, no caso do seguro, será uma mudança radical. O desafio não é mais dos tecnólogos, mas sim dos formuladores de políticas, especialmente no que se refere aos limites da Inteligência Artificial.”
O desafio é como continuar crescendo, pois o crescimento gera emissões, mas, ao mesmo tempo, cuidar do meio ambiente. As emissões estão diminuindo no Ocidente, mas China, Índia e muitos países em desenvolvimento estão crescendo e representarão dois terços das emissões globais, então o grande desafio é garantir que esse crescimento seja sustentável. E aí, o seguro desempenha um papel relevante.”
“O capital para financiar a transição energética está disponível. Mas esses fundos estão em pensões ou fundos de investimento e não podem ser doados; eles devem ser projetos sólidos com alto retorno. O papel do seguro é importante para tornar esses projetos previsíveis e atraentes.”
Se eu fosse presidente de um país, me concentraria na revolução tecnológica. A nova geração de IA desempenha um papel fundamental, especialmente porque pode ser usada para fins maliciosos”.
“A capacidade dos criminosos está se tornando cada vez mais sofisticada. À medida que a transformação digital avança, o risco aumenta, e é aí que a indústria de seguros desempenha um papel fundamental devido à sua capacidade de prevenção.”
Paul Krugman, a voz da economia
O americano falou profundamente sobre os tópicos macroeconômicos mais relevantes, especialmente em relação ao impacto da pandemia na atividade econômica, inflação e taxas de juros, sem aprofundar nos negócios de seguros.
Passamos por três anos e meio de muita disrupção no mundo devido à Covid, uma pandemia que gerou muitas dificuldades econômicas e preocupação com o aumento da inflação e da instabilidade financeira.”
“O consumo de uma pessoa é o trabalho de outra, e a pandemia fez com que ele diminuísse ou fosse adiado, gerando uma forte retração econômica. Algo semelhante aconteceu nos anos 80, um período de alto desemprego e recessão, onde controlar a inflação naquele momento foi extremamente caro. Mas isso não está acontecendo agora, felizmente. Temos um grande sucesso em combater a inflação sem altos custos.”
A disrupção causada pela pandemia gerou esse aumento da inflação no mundo. Estendeu-se por mais tempo do que o esperado, assim como a pandemia também se prolongou mais do que o esperado. Mas está sendo controlada sem altos custos em termos de desemprego ou desaceleração.”
“Há preocupações sobre a redução dessas taxas, pois pode implicar um aquecimento da inflação. À medida que a economia se fortalece com altas taxas de juros, a confiança de que elas retornarão aos níveis anteriores à pandemia está diminuindo.”
Os efeitos do aumento das taxas de juros ainda não se manifestaram completamente. É possível que a economia enfraqueça e as taxas voltem a cair.”
“Controlar a inflação tem um alto custo para a promoção de investimentos devido às altas taxas de juros. Mas não sou crítico da decisão do FED de aumentar as taxas.”
Antigamente, costumava-se dizer que, se os Estados Unidos espirrassem, a América Latina pegaria um resfriado. Isso não aconteceu agora. A dívida externa tem uma composição diferente, o que os torna menos vulneráveis a choques externos, especialmente no caso do Brasil.”
Luis Alberto Moreno e uma visão regional
O ex-presidente do BID foi o último dos palestrantes principais a falar, o fez no último dia da FIDES Rio 2023 e mostrou estar muito familiarizado com o negócio de seguros.
Para ter sucesso no mercado de seguros, é preciso ter a capacidade de compreender os riscos em constante mudança que enfrentamos, em um contexto de transformações culturais e econômicas, com cada vez mais blocos econômicos e onde a pós-pandemia demonstrou que o ‘Just in time’ está sendo substituído pelo ‘Just in case’.”
“A Quarta Revolução Industrial envolve um amplo conjunto de inovações que incluem a nuvem, a robotização, a Internet das Coisas (IoT) e, claro, a inteligência artificial, que traz consigo a possível extinção de empregos tradicionais.”
Atualmente, a realidade é diferente, os desafios são diferentes, e uma boa gestão de riscos nos ajuda a entender essas realidades mutáveis no mundo.”
“A revolução digital empurra o cenário em direção à evolução e exige uma abordagem proativa. Precisamos ser corajosos e deixar de ser espectadores para nos tornarmos jogadores, tanto no campo do software quanto do hardware.”
O setor de seguros na América Latina é parte da solução para os problemas atuais. Há uma lacuna de proteção muito alta que precisa ser reduzida, o que requer conscientização sobre seguros, cultura financeira e ferramentas de inovação.”
“O negócio de seguros é a pedra angular para o desenvolvimento dos mercados de capitais e tem tudo para ser um protagonista do futuro.”
Nem todos veem o seguro de vida como uma forma de poupança. Isso é cultural e também é resultado da falta de poupança em nossa região, o que impede uma maior penetração.”
“A regulamentação é longa e complexa, mas é o caminho a seguir. Ela permite criar uma cultura de seguro que atualmente não existe, e as organizações multilaterais desempenham um papel fundamental nisso.”