Seguradoras no metaverso: o que está em jogo?

Por Claudia Eliza Medeiros e David Morrell, Sócios da PwC Brasil.-

Até 2030, o metaverso poderá representar um mercado com tamanho aproximado entre as economias do Japão e da China. Em termos de receita total disponível, é um potencial de negócios que varia de US$ 8 trilhões e US$ 13 trilhões, segundo estimativas do Citibank. E à medida que seu uso se dissemina, conseguimos identificar ainda mais oportunidades proporcionadas por esse novo ambiente digital, compartilhado e descentralizado.

O metaverso, conforme explicamos em nosso mais recente estudo sobre o tema, é uma rede de mundos virtuais que se baseia em várias tecnologias existentes. Ele utiliza simulações e representações 3D em tempo real, que podem ser experimentadas de forma imersiva por um número ilimitado de usuários.

Com o metaverso mais presente no dia a dia, é normal que as seguradoras tenham que estar presentes nesse ambiente, com atividades de vendas sem as restrições físicas do mundo real, novas oportunidades de investimento e de mercados. É um ambiente de interação promissor, capaz de ajudar a identificar e mitigar riscos, estabelecer um relacionamento mais ágil e eficaz com os clientes e oferecer produtos e coberturas inovadoras

Há um vasto campo a ser explorado, por exemplo, na cobertura de novos riscos, como perda de conexão de rede e interrupções de serviços. São transtornos que podem causar prejuízos financeiros a usuários, plataformas, marcas, empresas e promotores de eventos.

A indústria está atenta. Um estudo realizado pela PwC em 2022 mostrou que, para 87% dos entrevistados do setor de seguros, o metaverso será totalmente incorporado e fará parte das atividades de negócios de suas empresas nos próximos três anos, um pouco mais do que a média de toda a indústria (82%). Cerca de 27% dos entrevistados afirmaram ter pelo menos uma prova de conceito promissora. Esse contingente já está buscando escalar negócios ou vem gerando receita com transações no metaverso.

Transformação nas vendas

O metaverso representa a chance de transformar o relacionamento da seguradora com o segurado. Hoje, a venda é concentrada no corretor, e o cliente só entra em contato com a seguradora quando tem um problema. Há poucas oportunidades de interação direta e positiva com os clientes. O metaverso muda isso.

As companhias de seguros, corretores e seus parceiros poderão conduzir atividades de vendas diretamente com avatares de consumidores. É possível usar abordagens de marketing inovadoras para atingir as gerações mais jovens, que são mais atraídas por gamificação ou serialização de conteúdos audiovisuais. Além disso, as experiências imersivas contribuem também para os clientes entenderem melhor os produtos ofertados, uma vez que poderão experimentar, por exemplo, os riscos simulados de eventos, como acidentes, incêndios ou doenças.

E há outra vantagem: todo o comportamento do usuário no metaverso é registrado em dados, que poderá ser analisado para otimizar as vendas. Tudo isso, no entanto, precisa respeitar as normas de proteção de dados pessoais.

Seguro para imóveis ou eventos virtuais

Com o aumento da atividade nesse novo ambiente, outros tipos de cobertura passaram a ser necessários, tanto para compradores, vendedores e comerciantes, como para entidades típicas do metaverso: os avatares. Algumas seguradoras já estão oferecendo cobertura para crimes cibernéticos e para perda ou roubo de investimentos. Há também oportunidades amplas na área de imóveis virtuais, que necessitarão de serviços específicos como proteção de hipotecas.

A cobertura de eventos e entretenimento é outro nicho promissor. Produtos semelhantes aos utilizados em eventos do mundo real e virtual poderão ser aplicados ao metaverso. A propriedade intelectual também é outra aposta, já que hoje ainda não existe seguro dessa natureza moldado para o metaverso.

Como se preparar para esse novo ambiente?

Para prosperar, as seguradoras devem estar atentas a alguns pontos-chave. Será preciso escolher a plataforma de metaverso mais adequada, além de criar controles, estabelecer procedimentos e desenvolver tecnologias que atendam a necessidades específicas desse ambiente digital. Atenção especial também deverá ser dada a mudanças regulatórias e as leis de segurança de dados.

O uso de pilotos com cenários pré-determinados, que detalhem a dinâmica de engajamento com os usuários, será outro fator fundamental para aprimorar a experiência no metaverso.

Muitas seguradoras, no entanto, ainda não estão familiarizadas com esse novo ambiente digital compartilhado e descentralizado. Para obter vantagem competitiva, as organizações devem desenvolver habilidades, por exemplo, para eliminar gaps que a impeçam de estabelecer novas formas de relacionamento com os clientes. Essas habilidades podem ser trabalhadas no próprio metaverso.

Uma medida eficaz é designar um indivíduo ou grupo para conhecer os principais conceitos envolvidos e a relevância deles para a empresa (caso das criptomoedas, por exemplo), além de acompanhar o rápido processo de evolução do metaverso.

Como as possibilidades são imensas, cabe às seguradoras começar a se preparar desde já para incorporar os recursos capazes de levá-las a desbravar, com sucesso, esse novo território digital.

 

* Claudia Eliza Medeiros é líder da indústria de Seguros e Resseguros, enquanto David Morrell é líder de Front Office Transformation.

 

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