Inclusão digital na LATAM

Alejandro Asenjo, diretor e fundador da Transformatio, consultoria especializada em cultura e transformação empresarial.-

por Alejandro Asenjo

Falar de futuro é falar de informação, ciência, mudança no trabalho, quarta revolução industrial, e nesse sentido exige um esforço conjunto dos governos e de todos os setores da sociedade quanto aos investimentos que os países devem fazer para dar o salto definitivo rumo ao desenvolvimento.

Em um contexto global e regional complexo, no qual convergem múltiplas crises, a digitalização é uma das áreas prioritárias para a transformação do modelo de desenvolvimento da América Latina e do Caribe e para avançar para um verdadeiro processo de inclusão digital, de um conjunto de ações e políticas que facilitem o uso e a adoção de tecnologias digitais em todos os segmentos da população, empresas e instituições governamentais.

Os países e a região exigem a cada dia serviços mais ágeis, com as pessoas no centro, porém, entre 2014 e 2023, a América Latina e o Caribe terão o menor crescimento das últimas sete décadas (0,8%), bem menos do que o registrado na chamada década perdida dos anos 80 devido à crise da dívida.

Portanto, é preciso trabalhar tanto na redução da desigualdade quanto na geração de riqueza, aspectos significativos que passam pelas políticas de desenvolvimento produtivo e pelas políticas de transformação digital, que de forma muito importante possibilitarão potencializar os efeitos positivos das tecnologias e enfrentar os desafios de desigualdade, privacidade, segurança, concorrência e proteção de dados.

É fundamental que a Agenda Digital para a América Latina continue gerando capacidades em termos de diálogo, cooperação e formação de acordos que são cruciais para consolidar uma visão comum sobre os mecanismos necessários para potencializar o impacto das tecnologias digitais em termos de desenvolvimento.

A pandemia do COVID-19 acelerou a digitalização na região e o Estado tem sido um grande promotor da transformação digital; no entanto, lacunas persistentes de conectividade condicionam a inclusão social.

Em 2021, a inserção promécio da banda larga fixa nos domicílios da América Latina e Caribe atingiu quase 62%, o que coloca a região bem abaixo de outras regiões como América do Norte e Europa, que apresentam níveis próximos a 100% e 90%, respectivamente. As diferenças também são significativas no caso da banda larga móvel, que tem uma penetração de 78% da população da região, e de 105% e perto de 150% nos casos da Europa e América do Norte, respectivamente.

1/4 dos domicílios urbanos e 2/3 dos domicílios rurais ainda precisam estar conectados. As famílias não conectadas no quintil de renda mais baixa triplicam as do quintil de renda mais alta na região.

Atualmente na região, são “desconectados” a metade dos jovens entre 13 e 25 anos, 1/3 dos meninos e meninas entre 5 e 12 anos e 1/4 dos adultos com mais de 66 anos de idade.

Os países industrializados colocam a digitalização no centro das políticas de desenvolvimento produtivo, por isso conscientes de sua importância na formulação e implementação de políticas públicas centradas nas pessoas e como caminho para o desenvolvimento sustentável na América Latina, a Oitava Conferência Ministerial sobre a Sociedade da Informação na América Latina e o Caribe que aconteceu em Montevidéu, Uruguai, até a última sexta-feira, 18 de novembro, onde a CEPAL propôs discutir o caminho para a digitalização sustentável e inclusiva na região, com base nas seguintes prioridades:

  1. Gerar as condições facilitadoras (o que implica expandir a cobertura do serviço, garantir uma cobertura universal efetiva, acelerar a implantação de redes móveis avançadas como o 5G e desenvolver competências digitais);
  2. Desenvolver soluções digitais;
  3. Promover a transformação digital (favorecendo, por exemplo, o empreendedorismo e a inovação e promovendo a digitalização das empresas);
  4. Estabelecer governança digital; y,
  5. Fortalecer a cooperação e integração regional (promovendo, entre outras coisas, um mercado digital regional).

Os argumentos a favor do acesso digital são claros. A digitalização impulsiona a inclusão social e financeira, bem como resultados de aprendizagem e saúde.

Atualmente, quase metade da população adulta da região não é bancarizada. Cerca de 170 milhões de estudantes em toda a região foram afetados pelo fechamento de escolas durante a pandemia. E 71% dos países sofreram interrupções na prestação de cuidados para doenças não transmissíveis durante os primeiros meses da crise causada pelo COVID-19.

Mas os desafios são substanciais: cobertura ruim e desigual, juntamente com dados elevados e custos de dispositivos, continuam a dificultar o acesso digital.

Abordar a exclusão digital é tão urgente quanto importante e exigirá políticas para reduzir custos, expandir o acesso e incentivar uma maior participação dos cidadãos e do setor privado.

A transformação digital continua sendo uma grande promessa para a América Latina, mas para que ela se torne realidade, seus múltiplos benefícios terão que ser desencadeados, exigindo um esforço inteligente e concentrado.

O futuro se constrói com ações do presente, e agora é hora de aproveitar as oportunidades que abrirão um futuro mais verde, resiliente, inclusivo e digital.

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