Como as seguradoras estão se adaptando ao novo contexto de mobilidade? Essa é a pergunta que Gustavo Leança, Diretor de Seguros da Capgemini Brasil, buscou responder ao ser convidado como palestrante na 8ª edição da Conferência Anual 100% SEGURO, realizada em 20 de setembro em Buenos Aires. Ele viajou especialmente do Brasil para este evento de referência no setor de inovação, que surpreendeu tanto os participantes locais quanto estrangeiros.
Em uma sala lotada, ao abordar a relação entre mobilidade e seguros automóveis, o especialista revelou que nas grandes cidades, como Buenos Aires ou São Paulo, a maior parte da mobilidade urbana atual ocorre por meio de veículos particulares a combustão (45%), enquanto o transporte público representa 23% e caminhar apenas 14%. No que diz respeito aos seguros, 90% cobrem veículos a combustão e apenas 10% veículos elétricos.
No entanto, com o crescimento das cidades em todo o mundo, esse modelo de mobilidade centrado em veículos particulares movidos a combustão é insustentável a longo prazo, e as consequências já são conhecidas por nós no nosso dia a dia, com grandes congestionamentos. Por isso, a discussão já está sobre a mesa sobre como melhorar a mobilidade urbana”, afirmou Leança.
Desde 2018, a General Motors adotou o conceito de Triplo Zero, que também foi absorvido por toda a indústria automobilística: zero congestionamento, zero emissões e zero acidentes. “Portanto, espera-se que até 2030, 40% do mercado automobilístico seja autônomo, conectado ou elétrico”, destacou.
Isso será apoiado pela evolução de tecnologias como o 5G, a Inteligência Artificial, a telemática e a redução dos preços das baterias, além de incentivos governamentais em infraestrutura.
Assim, as mudanças na mobilidade trazem oportunidades de crescimento para as seguradoras. De acordo com os dados fornecidos, o mercado de mobilidade pode dobrar até 2030, impulsionado pelas apólices de seguros para veículos autônomos, conectados, elétricos e compartilhados, que podem aumentar até 8 vezes.
Mas junto com isso, podemos esperar algumas mudanças importantes na forma como pensamos sobre o seguro. Primeiro, a natureza do risco passará a incluir a responsabilidade do algoritmo incorporado ao veículo ou mesmo a cibersegurança embutida no sistema de direção. Segundo, uma mudança na responsabilidade: do indivíduo para a responsabilização também dos fabricantes ou frotas. E, por último, uma cobertura que se expande do veículo para incluir também a viagem como um todo”, detalhou.
Assim como haverá novas oportunidades, também haverá desafios no novo modelo de mobilidade. Segundo o especialista, a crescente quantidade de dados exigirá habilidades por parte das seguradoras. Outro ponto é que 7 em cada 10 dos principais fabricantes de automóveis do mundo já experimentam vender seguros baseados no uso, incorporados aos seus veículos, criando um risco de desintermediação para as seguradoras.
Há um desafio relacionado aos custos de reparo, que podem ser até 53% mais altos em um veículo elétrico em comparação com um veículo tradicional. Além disso, a tecnologia ainda é um desafio para 63% das seguradoras globalmente, seguido pela dificuldade em atender às crescentes expectativas dos consumidores em relação a novos meios de mobilidade, com 45% globalmente”, acrescentou.
A conclusão é que, para crescer de maneira sustentável e enfrentar a nova concorrência, as seguradoras deverão fazer a transição de um modelo de negócios de seguros automobilísticos para seguros de mobilidade, com grandes investimentos em tecnologia.
O estudo da Capgemini aponta para três novos modelos de negócios em seguros de mobilidade. No entanto, um ponto comum a todos eles é que o seguro de mobilidade passará cada vez mais da apólice estática para a avaliação dinâmica de risco e, portanto, para uma fixação dinâmica de preços. De acordo com o estudo, isso será feito por meio de três novos modelos de negócios.
O primeiro é o seguro baseado no uso (Usage Based Insurance), que já existe hoje e ocorre quando a seguradora monitora a condução do veículo por meio de dispositivos ou aplicativos móveis.
O segundo é o seguro incorporado, mas, neste caso, a distribuição é feita diretamente pelos fabricantes de veículos ou empresas de frotas, e a principal diferença é que o veículo já chega ao consumidor com o dispositivo de monitoramento incorporado. Esse modelo permitirá grandes economias de escala, mas também trará um risco importante de desintermediação e perda de participação de mercado pelas seguradoras.
Por último, o seguro de assinatura modular, que voltaria a ser oferecido pelas seguradoras e tem como característica a oferta de múltiplos meios de transporte (bicicletas, patinetes, transporte público, carros, etc.) em um seguro multimodal. No entanto, isso traz a oportunidade de oferecer uma ampla gama de serviços de valor agregado.
A conclusão é que é necessário uma mudança em toda a cadeia de valor, desde o produto até o sinistro”, concluiu o especialista.