O impacto das mudanças climáticas nas perdas ocasionadas por catástrofes naturais na América Latina

Não há dúvida de que os desastres relacionados ao clima estão aumentando em todo o mundo, assim como na América Latina. Resta saber como o mercado de seguros pode atuar para mitigar as perdas.

por InsurMarket Latam

As mudanças climáticas são um dos aspectos que impulsionam as perdas de seguro por catástrofes naturais. No entanto, também existem outros, como o crescimento populacional e as concentrações em áreas de alto risco, populações cada vez mais vulneráveis em países com economias instáveis, com níveis crescentes de risco e desafios econômicos – com menos financiamento e apoio internacional devido a uma variedade de influências sociopolíticas, entre outros inúmeros fatores.

“É uma matriz complexa de desafios que se misturam em um algoritmo de riscos econômicos que os países em desenvolvimento, e todos os outros do mundo, estão enfrentando. Muitas vezes, os custos sociais e econômicos dos desastres naturais em regiões como a América Latina não têm uma mensuração clara ou uma compreensão de seu “valor” total em vidas ou em custos econômicos. Por si só, as mudanças climáticas são um dos principais fatores que contribuem para os riscos futuros que esperamos na América Latina e os impactos derivados dos desastres naturais tendem a ser significativos”, explica Keith Lawler, managing director of Reinsurance Solutions in Latin America for Aon.

Ele explica que a Aon investe continuamente em soluções para melhor aconselhamento e tomada de decisões de risco junto aos seus clientes. “Existem inúmeras parcerias privadas, públicas e acadêmicas, pelas quais fornecemos análises para apoiar a mensuração dos índices de evolução de risco e, também, a variação de pontos de vista sobre em quais níveis tal evolução de risco afetará as posições econômicas e sociais em todo o mundo”. Especificamente na América Latina, a Aon adquiriu a ERN, uma empresa mexicana de modelagem de risco para catástrofes – como exemplo de busca de parcerias com foco regional para garantir suporte e consultoria aos clientes.

Diminuir as perdas econômicas e seguradas é um desafio constante. Para tanto, é necessária uma separação em duas categorias: o segurado e o custo econômico dos desastres, que são duas coisas muito diferentes.

As abordagens de mitigação de perdas seguradas podem ser definidas com mais clareza. As seguradoras mitigam seus riscos por meio de subscrição rigorosa e compreensão dos riscos naturais, riscos causados pelo homem e vulnerabilidade dos locais que estão sendo segurados. Este é um processo gerenciável, embora não seja algo simples, e algumas seguradoras são mais ativas e mais bem-sucedidas do que outras”, avalia Lawler.

Existe, entretanto, uma enorme diferença entre a perda segurada e a perda econômica; ainda mais longe estão os custos sociais e humanos que não são propriamente medidos em valores monetários.  Existem inúmeras ferramentas financeiras sendo implantadas em todo o mundo e na América Latina, no entanto, elas não são tão difundidas, não possuem o volume necessário para mostrar um grande impacto econômico ou social e oferecem apenas soluções limitadas para riscos ou populações bastante específicas.

Por exemplo, considere um ciclone tropical: muitas vezes, os piores impactos são devido às chuvas excessivas ou comunidades bastante isoladas perdendo energia elétrica; a maioria desses impactos não são coisas que as apólices de seguro ou resseguro estão em condições de apoiar. Os governos ficam com a maior parte dos custos e, muitas vezes, não estão devidamente financiados ou preparados para responder. Nesses casos, quem sofre são as populações vulneráveis”, lamenta o executivo.

Falando em perdas não seguradas, há outro fator que está ficando cada vez mais claro: enquanto a maioria das perdas seguradas são perdas diretas, principalmente relacionadas aos custos de reconstrução, os países geralmente sofrem perdas indiretas ou secundárias, que resultam da propagação das perdas diretas por toda a economia. Por exemplo, considere o caso de um terremoto que atinge uma usina de energia. O custo de reconstrução da usina costuma ser bem menor do que os prejuízos que a falta de energia produzida na economia local causou. Até recentemente, não havia métodos quantitativos para estimar o valor dessas perdas indiretas em economias complexas e altamente interligadas. Um artigo recente publicado na revista Nature, co-escrito pelo Dr. Mario Ordaz, membro da UNAM e Conselheiro Científico Chefe da ERN e da Aon, explora este problema e propõe uma abordagem para começar a tentar medir o risco envolvido. Lawler esclarece: “potencialmente, essa abordagem pode mudar a maneira como as perdas futuras serão estimadas; portanto, pode mudar a maneira como os seguros serão administrados. O risco, sua medição e sua compreensão evoluíram e os conceitos e pensamentos inovadores estão começando a fazer a diferença em como os setores público e privado veem as necessidades que eles têm de se proteger”.

Existem apoiadores ativos de governos e entidades públicas, tais como bancos de desenvolvimento como o IADB e outros, bem como outros facilitadores, como o CCRIF (Caribbean Catastrophe Risk Insurance Facility). No entanto, este é um pacote de ferramentas de financiamento limitado e insuficiente para atender adequadamente as necessidades. Sem mencionar que a implementação de fundos de financiamento contra desastres é, muitas vezes, desafiada inúmeras vezes ao longo do caminho, como, por exemplo, a burocracia internacional, que torna difícil em alguns casos obter financiamento para as áreas mais necessitadas e, também, pode limitar a transparência na aplicação local dos fundos.

Muito já está sendo feito, mas é necessário muito mais, precisamos ver inovações em como esses fundos de apoio a desastres podem ser implantados para que sejam mais eficazes”, antecipa Lawler.

 

MITIGADOR DE PERDAS

Muitas empresas, especialmente as grandes seguradoras locais em toda a América Latina, desempenham papéis importantes e ativos em suas comunidades. Existem muitos programas de desenvolvimento e divulgação voltados tanto para empresas, quanto para educação da população. Lawler aponta que “por vezes, observamos uma postura de “jogar a culpa” nas empresas privadas, para que se apropriem do que é um problema socioeconômico sistêmico. As pessoas veem as seguradoras como vilãs após grandes desastres naturais. Grande parte das primeiras ações, financiamento e suporte, e a iniciativa de colocar “os pés no local” após um desastre estão nas mãos das grandes empresas, e esse suporte se expande para além de seus clientes”.

Há mais coisas que podem ser feitas, no entanto, é importante olhar para o sistema e para as instituições públicas com muito mais foco. Potencialmente, por meio de uma forte parceria público-privada e de algumas soluções criativas, será possível ver alguns dos maiores mecanismos de apoio sendo construídos.

 

SIMETRIAS DA AMÉRICA LATINA

Embora os mercados da América Latina tenham um denominador comum, que é a alta exposição ao risco de catástrofe natural nos negócios (particularmente terremotos), não existe algo como um “Risco da América Latina”.

“Cada país tem suas particularidades em relação à exposição ao risco, bem como regulamentações locais. O Caribe está fortemente exposto a furacões, enquanto o lado oeste da América Latina – do México à América Central e ao sul do Chile – está exposto a terremotos. Os países não expostos a terremotos também viram outros riscos aumentarem: por exemplo, neste ano, o impacto de secas significativas afetou o negócio agrícola de maneira considerável, e este negócio é uma grande parte das economias da região. No entanto, a América Latina tem sido vista como muito bem-sucedida perante a outros mercados, mesmo contando com grandes catástrofes naturais ou provocadas pelo homem, além disso, fornece um forte componente de diversificação para os outros mercados, que, de certa forma, estão concentrados nos EUA, Europa e a região da Ásia-Pacífico”, completa Lawler.

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