ENTREVISTA EXCLUSIVA.- Dos 124.361 carros com algum tipo de eletrificação registrados no país, 86.143 (cerca de 69%) são híbridos ou híbridos leves. Em seguida, vêm os híbridos plug-in, que, com 27.073 emplacamentos, representam 22% da frota, e 11.145 carros elétricos que completam os 9% restantes. Esta frota de carros elétricos triplicou nos últimos três anos e, espera-se, que cresça agora com maior velocidade, por conta da chegada de modelos chineses mais baratos. A expectativa é de 50% de crescimento.
No caso da América Latina, as vendas desses tipos de carros (elétricos, híbridos e híbridos plug-in) aumentaram 21,7% entre 2021 e 2022, segundo uma análise de oito países que relatam esses dados da categoria por meio de associações locais. No total, foram vendidos 143.281 veículos híbridos e elétricos, ou mais de 25.000 do que os 117.742 de 2021, segundo dados do TrendsCE.
Para entender como funciona o seguro para estes veículos, Insurmarket Latam conversou com João Merlin, Superintendente de Automóvel da seguradora Zurich no Brasil.
IML: Qual é o maior desafio para o seguro de carros elétricos?
João Merlin: Podemos dizer que a indústria de carros elétricos é nova, com um pequeno histórico e, dessa forma, a falta de histórico de sinistros e dados estatísticos comparativos em relação aos veículos tradicionais é um desafio para o seguro de carros elétricos.
Além disso, os veículos elétricos têm aspectos diferentes que exigem conhecimento de tecnologia associado a essas características e isso faz com que as seguradoras precisem desenvolver métodos para avaliar e precificar adequadamente esses riscos.
Outro ponto de desafio diz respeito aos custos de reparo desses veículos, já que as peças e componentes dos carros elétricos costumam ser mais caros. Além disso, a tecnologia elétrica pode exigir técnicos especializados e oficinas com equipamentos específicos para reparos. Isso pode impactar os custos de reparo e, consequentemente, os prêmios de seguro.
Existem outros riscos que precisam ser considerados como possíveis falhas no sistema elétrico, a infraestrutura de recarga. Esses são itens que podem afetar os riscos associados ao seguro, já que uma infraestrutura de recarga insuficiente pode aumentar os riscos de quedas de carga ou atrasos na assistência em casos de pane elétrica, o que pode ter implicações no seguro.
Um ponto importante que as companhias também devem ter é um protocolo de assistência em caso de descarregamento do veículo no meio de uma viagem, já que o veículo terá de ser rebocado pois não existe carga rápida nem carregador portátil. Por isso, a questão da infraestrutura também é importante, pois para atender veículos elétricos será preciso ter postos de carregamento ao longo das estradas.
IML: O Brasil está no mesmo patamar de consumo de seguros para carros elétricos de outros países da América Latina?
João Merlin: É difícil estabelecer uma tendência para a questão específica do seguro, mas o país tem um grande potencial de crescimento para carros elétricos e, até por sua relevância, tem grande influência nos números de todo o continente, que tem crescido nos últimos anos. Tanto é verdade que dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) mostram que o país teve o melhor semestre da série histórica na venda de veículos leves eletrificados* no Brasil. Foram 32.239 emplacamentos de janeiro a junho de 2023. Esse total representa um crescimento de 58% em relação ao primeiro semestre de 2022 (20.427), e se encontra muito próximo das vendas de todo o ano de 2021 (34.990).
Só em junho foram 6.225 emplacamentos – 53% acima de junho de 2022 (4.073). Foi o melhor mês de junho e o terceiro melhor mês de toda a série histórica, só superado por maio/23 (6.435) e setembro/22 (6.391).
Os números indicam que o mercado tem boa possibilidade de superar a previsão da ABVE de 70 mil emplacamentos até o final do ano. A frota total de veículos leves eletrificados no Brasil chegou a 158.678 unidades, de janeiro de 2012 a junho de 2023.
A Zurich percebeu esse potencial e foi pioneira em oferecer seguro para carros elétricos e híbridos no Brasil em 2019. Nosso produto passou por algumas transformações, sendo a principal delas o aumento da aceitação para veículos de até R$ 800 mil. Mas seguimos buscando oportunidades para desenvolver proteções customizadas para esse tipo de veículo.
IML: Qual é a expectativa de crescimento dessa carteira?
João Merlin: A expansão na venda de veículos elétricos é uma nova frente de oportunidades para o seguro auto no Brasil e no mundo, motivada sobretudo pelas mudanças climáticas que, segundo o Global Risks Report 2023, lançado em parceria com o Fórum Econômico Mundial, seguem como os principais riscos que a humanidade irá enfrentar a longo prazo.
À medida que assistimos a um crescimento exponencial da comercialização de carros eletrificados no Brasil e no mundo, a expectativa é que a carteira acompanhe esse crescimento.
IML: Os carros híbridos entram em qual categoria, combustão ou elétrico?
João Merlin: Devido a essa combinação de tecnologias, os carros híbridos são considerados como uma nova categoria intermediária entre veículos movidos exclusivamente por motores a combustão interna e veículos totalmente elétricos. Eles podem ser vistos como uma transição para a eletrificação completa dos veículos, oferecendo benefícios em termos de eficiência de combustível e redução de emissões em comparação com os veículos movidos exclusivamente a combustão. Os modelos híbridos incorporam elementos de tecnologia elétrica e são considerados uma opção mais sustentável em relação aos veículos movidos exclusivamente a combustão.
IML: O preço do seguro para carro elétrico é similar ao do carro a combustão? O preço do seguro, se cair, pode ser um incentivo para a compra de carros elétricos?
João Merlin: O que determina o preço do seguro é um conjunto de fatores como perfil do condutor, CEP de risco, coberturas, serviços, limites contratados e, naturalmente, o modelo do veículo, que por sua vez estão associados às frequências de sinistro e custos envolvidos. No caso dos veículos elétricos, não é diferente. Notadamente temos um custo de reparação maior nos veículos elétricos, justamente pela tecnologia e componentes embarcados (ex. Bateria) por outro lado, observamos uma baixa frequência de roubo/furto para esses modelos. Portanto, é possível afirmar que o preço do seguro é similar entre os diferentes tipos de propulsão. Quanto a demanda por esse tipo de veículo, certamente teremos um maior número de vendas e consequentemente aumento da oferta de seguros a partir da chegada de modelos mais acessíveis em termos de custo e incentivos econômicos como juros reduzidos, benefícios fiscais etc.